O termo anfíbio (Em grego: amphi = ambos, duplo; bios = vida), deve-se ao fato de a maioria de suas espécies passar parte de suas vidas na água e parte na terra, sendo o primeiro grupo de vertebrados a conquistar o ambiente terrestre, mas ainda dependem do meio aquático para o seu desenvolvimento durante as fases embrionária e larval, como para suprir suas necessidades fisiológicas quando adultos. Os anfíbios são os vertebrados terrestres mais primitivos, mas são também os mais evoluídos com uma fase larval. Podem ser considerados como um dos mais interessantes grupos do reino animal, pois apresentam na maioria das espécies uma surpreendente metamorfose ao longo do seu ciclo de vida, não observada em nenhum outro grupo de vertebrados.
São conhecidas, até o momento, 946 espécies de anfíbios no Brasil. Desses, 913 são espécies de anuros, uma espécie de caudata e 32 espécies de Gymnophionas (SEGALLA et al. 2012). Para maior compreensão da biodiversidade dos anfíbios do estado de São Paulo, o grupo deve ser subdividido nas duas ordens representadas neste estado: Ordem Anura (sapos, rãs e pererecas) e Ordem Gymnophiona (cobras-cegas). Os anuros correspondem ao grupo mais diversificado e conhecido. Já os Gymnophiona, em função de seus hábitos criptobióticos (vivem em galerias subterrâneas escavadas), são pobremente conhecidos em todos os seus aspectos, inclusive em relação à diversidade (HADDAD 1998).
Nas áreas agrícolas da Usina São Francisco, foram registradas 27 espécies de anfíbios, pertencentes à ordem (Anura), divididas em cinco famílias (Bufonidae, Hylidae, Leiuperidae, Leptodactylidae e Microhylidae) e 11 gêneros (Rhinella, Dendropsophus, Hypsiboas, Scinax, Trachycephalus, Eupemphix, Physalaemus, Leptodactylus, Chiasmocleis, Dermatonotus e Elachistocleis).
Atualmente, são conhecidas cerca de 200 espécies de anfíbios anuros no estado de São Paulo. Diversos estudos têm demonstrado que em muitos ecossistemas os anfíbios apresentam papéis fundamentais nos fluxos de energia, tanto no papel de predadores como de presas (BEEBEE 1996). Os anfíbios são especialmente suscetíveis a alterações ambientais, pois sua pele tipicamente fina, desprovida de escamas e permeável, os tornam altamente vulneráveis aos contaminantes químicos e radiação. O modo de vida de muitas espécies exige a manutenção de habitats aquáticos e terrestres em condições satisfatórias (HADDAD & HÖDL 1997).
Além disso, os anfíbios têm grande potencial de uso na área de monitoramento ambiental, porque seus ovos são muito sensíveis aos contaminantes presentes no ar e na água, já que carecem de uma camada protetora e são postos na água ou próximos a esta. Fatores climáticos determinam o começo, a duração e a intensidade da época reprodutiva desses animais, de tal forma que monitoramentos cuidadosos das populações em procriação podem prover um ensaio extremamente sensível de mudanças climáticas (BEEBEE 1996).
Os anfíbios, especialmente os anuros, são verdadeiros sensores ambientais, que ao menor desequilíbrio em seus habitats reduzem sua capacidade reprodutiva, podendo observar o rápido desaparecimento de populações. São particularmente suscetíveis à urbanização, devido à necessidade de água em seu ciclo vital. Um dos motivos da sensibilidade dos anfíbios à saúde do meio ambiente está relacionado aos seus diversos modos reprodutivos, havendo espécies que depositam seus ovos em meio aquático, em meio semiaquático, com ninhos de espuma flutuantes, na vegetação acima d'água ou até mesmo em ambiente terrestre, no solo da mata (STEBBINS & COHEN 1995; JANSEN et al. 2001).
São elementos importantíssimos nas cadeias ecológicas, principalmente como controladores de insetos e outros invertebrados, sendo ora presas, ora predadores. No geral, são bons indicadores biológicos e ambientais, já que necessitam de um ecossistema equilibrado (associação entre meio biótico e abiótico) para manter sua diversidade. São especialmente suscetíveis a alterações ambientais, pois sua pele tipicamente lisa e permeável os tornam altamente vulneráveis a contaminantes químicos e radiação. Além disso, o hábito de muitas espécies exige a manutenção de habitats aquáticos e terrestres em condições satisfatórias (STEBBINS & COHEN 1995; BIOINDICADORES 2009).
Aparentemente, a vulnerabilidade de diversas espécies é decorrente de seu elevado grau de endemismo, o que é mais conspícuo para as formas da Mata Atlântica (LYNCH 1979), bem como dos seus modos reprodutivos especializados, o que é mais visível para os anuros de florestas úmidas (DUELLMAN & TRUEB 1986). Atualmente são conhecidos 36 modos reprodutivos para os anuros no mundo (LUTZ 1948; DUELLMAN & TRUEB 1986; HADDAD & SAZIMA 1992; WEYGOLDT & SILVA 1992; LAWSON 1993; HADDAD & HÖDL 1997; HADDAD & POMBAL 1998).
CARACTERÍSTICAS GERAIS
Os anfíbios utilizam-se da visão, audição e olfato. As orelhas (internas e médias) dos anfíbios estão adaptadas à percepção de sons no ambiente terrestre, tendo evoluído juntamente com a vocalização. Alguns possuem cordas vocais, emitindo diversos tipos de sons (o coaxar dos sapos, por exemplo), porém, somente os machos vocalizam. Realizam suas atividades (alimentação, vocalização, acasalamento e reprodução) essencialmente no período noturno. Utilizam vários tipos diferentes de habitats e podem ter hábitos aquáticos, semiaquáticos, terrestres, arborícolas e semiarborícolas. São predadores, alimentando-se em terra e na água, principalmente de insetos, larvas de insetos e invertebrados em geral, como, baratas, formigas, grilos, gafanhotos, minhocas, aranhas e outros anuros. Além disso, também podem se alimentar de pequenas serpentes, lagartos, aves e mamíferos.
Observa-se nesse grupo uma das maiores diversidades de estratégias reprodutivas entre os vertebrados, seja no comportamento de atração sexual, seja nos tipos, locais de postura e nos cuidados com a prole. A maioria das espécies reproduz-se a noite, nos meses mais quentes e chuvosos do ano, mas também durante a estação seca, na ocorrência de chuvas esporádicas. Os machos atraem as fêmeas emitindo vocalizações, que são específicas e particulares para cada espécie, e realizam o amplexo (abraço nupcial realizado durante a postura dos ovos), no qual o macho estimula a fêmea a liberar os óvulos maduros e dissemina sobre eles os espermatozóides que serão fertilizados. A desova ocorre normalmente na superfície da água. A primeira fase da vida é aquática e a larva é conhecida como girino. Em apenas algumas semanas, já desenvolve suas patas, absorve a cauda e passa a respirar pela pele e pulmões, como os adultos.
Como estruturas de defesa, alguns anfíbios possuem glândulas de veneno na pele, onde uma grande variedade de substâncias farmacologicamente ativas são encontradas, algumas extremamente tóxicas e outras menos, mas capazes de produzir sensações desagradáveis quando um predador morde um anfíbio. Nos sapos, concentram-se principalmente em um par de estruturas denominadas “glândulas paratóides”. Além disso, quando ameaçados podem fingir-se de mortos (tanatose) para enganar seus predadores.
A FAUNA DE ANFÍBIOS NAS ÁREAS AGRÍCOLAS DA USINA SÃO FRANCISCO
FAMÍLIA BUFONIDAE
Representada pelos típicos sapos, com glândulas atrás dos olhos, são grandes, robustos e com muitas glândulas na pele, conferindo um aspecto rugoso e com diversas protuberâncias. Apresentam tamanho variável, com espécies desde 2 até 25 cm de comprimento. Vivem sobre o solo e têm hábitos fossoriais (enterram-se).
FAMÍLIA HYLIDAE
Representada pelas pererecas, com cabeças curtas, patas longas e discos adesivos (ventosas) nas extremidades dos dedos, que lhes permite a conquista do ambiente arbustivo e arbóreo, são de tamanho pequeno a mediano (1,6 a 11,5 cm de comprimento). É a família com a segunda maior diversidade de espécies no mundo.
FAMÍLIA LEIUPERIDAE
A maior família de anfíbios do planeta, juntamente com a família Leptodactylidae, com mais de 1.100 espécies é representada pelas rãs que fazem ninhos com espuma. Possuem patas traseiras longas e robustas, permitindo grandes saltos e patas com nadadeiras. São de tamanho variável (1,2 a 2 cm de comprimento).
FAMÍLIA LEPTODACTYLIDAE
A maior família de anfíbios do planeta, com mais de 1.100 espécies. É representada pelas rãs que fazem ninhos com espuma. Possuem patas traseiras longas e robustas, permitindo grandes saltos, e patas com nadadeiras. São de tamanho variável (1,2 a 25 cm de comprimento).
FAMÍLIA MICROHYLIDAE
Representadas pelas rãs de cabeça pequena, estreita e bicuda, são fossoriais e passam boa parte de suas vidas sob o solo ou folhiço dentro da mata, saindo apenas para se alimentar ou durante o período de acasalamento. São de tamanho reduzido (0,8 a 10 cm de comprimento).
LITERATURA CONSULTADA
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